ARTE É VIDA

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Saturday, June 14, 2008

Friday, February 29, 2008

HISTÓRIA DA ASTROLOGIA


Desde as épocas mais remotas, o homem sempre perscrutou os céus em busca dos mistérios da existência humana, pois a sentia estreitamente ligada ao cosmo. Os babiloneses já tinham cartas do Céu com as órbitas dos dois luminares, o Sol e a Lua. Já os sacerdotes Caldeus, tinham um método astrológico rudimental, e faziam adivinhações estudando as doze constelações, apesar de não utilizarem o horóscopo individual, o condenando abertamente, especialmente se feito com fins lucrativos. As estrelas indicavam os acontecimentos da coletividade. No entanto, o seu legado chegou até os Egípcios, Gregos, Persas e até a Índia. E todos estes povos estudaram a seu modo o céu, dando-lhes as características de suas próprias civilizações. Foram necessários quase três mil anos para que a astrologia passasse do plano impessoal àquele individual, e é neste momento que a astronomia e a astrologia, embora irmãs, se separaram. No entanto, a astrologia se baseia na astronomia para fazer as suas deduções e a astronomia continua a utilizar conceitos e símbolos herdados da astrologia. A tradição egípcia nos ensina que "o que está em cima é como o que está embaixo e o que está embaixo é como o que está em cima" (O Caibalion). Na Grécia, Pitágoras afirmava uma reciprocidade entre o Todo e o cosmo, e de conseqüência entre o Todo e o Homem. Os pitagóricos desenvolveram um pensamento que afirmava a existência de uma relação íntima entre a matemática e a música (a música das esferas). Este pensamento, se adaptado à astrologia, serviria para conciliar o princípio dos opostos de Eráclitus, com uma lei de movimento cíclico e com uma relação entre macrocosmo e microcosmo. É sobre esta base que se formou a idéia da afinidade absoluta entre a vida no cosmo e o homem, (expressão da verdadeira harmonia universal), que é em si uma expressão da idéia do ritmo universal, esta música das esferas que de alguma forma ecoa no espaço ilimitado da vida individual.
Durante alguns séculos a astrologia foi se enriquecendo do pensamento de vários filósofos, como Pitágoras e Eraclitus, e também com aquelas de Platão e Aristótele. No século II a.C. Iparco contribuiu para a astrologia, constatando a precessão dos equinócios, a obliquidade da elíptica, a excentricidade da órbita solar, o para-eixo horizontal da lua, etc. Foi ele que, com as suas descobertas astronômicas e segundo o pensamento de Platão, segundo o qual cada fenômeno na terra estava em relação aos acontecimentos celestes e o físico do homem constituía uma reprodução dos modelos celestes, elaborou uma tabela com a ordem de correspondência entre os setores zodiacais e as partes do corpo humano. Podemos dizer que aqui se encontram as idéias básicas da antroposofia e da cosmopatologia. Os seus contemporâneos aprofundaram estas considerações, elaborando assim pela primeira vez as análises individuais de temas astrais para os indivíduos. Aqueles primeiros conceitos dos Caldeus se encontravam então enriquecidos e ampliados: os Judeus os aproveitaram na Kabalah e cada vez mais os Árabes os aprofundaram, dando origem a uma grande escola de astrologia. Não poucos perigos se escondiam nas leis astrológicas que pareciam ir ao encontro de um total determinismo dos fenômenos, fazendo da astrologia uma 'lei matemática', com pouco espaço para o livre arbítrio individual. Além disso, já naquele tempo a astrologia começou a atrair pessoas pouco escrupulosas, e seja no mundo árabe que na Roma cristã, apareceram muitos aproveitadores que enganavam os ingênuos sem nenhum pudor. Mas é também naquele tempo que surgiram estudiosos sérios, desejosos de ampliar o conhecimento astrológico para deixar um legado para a posteridade. Entre eles devemos destacar Claudius Ptolomeu. O Tetrabiblos por ele escrito pode ser de fato considerado como o primeiro tratado científico de astrologia publicado no Ocidente. Ptolomeu reuniu nele de forma ordenada e sistemática todas as teorias e conceitos e também as experiências astrológicas da Babilônia, Egito e Grécia. Foi ele que elaborou pela primeira vez a noção dos 'Regentes' dos signos astrológicos. Ele também reconheceu a importância do horóscopo individual, dando o pontapé inicial à astrologia da forma como nós a conhecemos. A obra de Ptolomeu traz consigo as características daquela unidade entre o espírito e a natureza que foi o fundamento da filosofia grega e que somente após a morte de Alexandre Magno (323 a C.) começou a se desintegrar. O sincretismo filosófico e religioso, especialmente aquele da escola alexandrina, preparou o terreno para uma antiga filosofia que teve uma grande importância para o espírito humano: o neo-platonismo.
Entre os expoentes desta filosofia, destacaremos Plotino (205-270 d.C) e Porfírio (233-304 d.C.), seu discípulo. Plotino ao se aprofundar no sincretismo filosófico-religioso, sentiu a harmonia do universo e reconheceu a correspondência entre "o que está em cima e o que está embaixo", uma lei universal entre o céu e a terra, indispensável para toda a compreensão da existência humana. Ao resgatar a astrologia, estes filósofos simplesmente mantiveram a hereditariedade do pensamento grego, impedindo a decadência da astrologia e integrando-a com o pensamento cristão reinante no mundo naquela época. No entanto a astrologia sofreu varias ameaças ao longo dos séculos, sempre ressurgindo fortalecida, quando a humanidade passa por momentos de grandes revoluções sociais. Devemos reconhecer o valor desta grande ciência quando verificamos que ao longo dos milênios, ela ressurge sempre evoluindo com o pensamento da humanidade, como que a demonstrar o valor indestrutível desta experiência milenar que faz parte da própria consciência e da existência de um corpo espiritual atemportal. No ocidente, nos primeiros séculos de nossa era, (de 700 a.C. há 1100 d.C.) o interesse da astrologia era concentrado primeiramente nas suas relações com a doutrina cristã. No Oriente, no entanto, a astrologia continuou sua evolução para ampliar suas bases teóricas e sobretudo práticas. Em Bizâncio (ou Constantinopla) existia uma cadeira de Astrologia na Universidade. No mesmo período, o mundo islâmico contribuiu de forma notável para o desenvolvimento das ciências astrológicas.

Capitulo 2
A partir da idade média, a astrologia precisou se adequar à evolução do pensamento e portanto acabou ressentindo as conseqüências do processo de transformação derivado do pensamento cristão que naquele período se espalhava no mundo ocidental. Neste período o aspecto entre astrologia e religião são interligados. A partir de 1400 d.C., as relações entre astrologia e religião começaram a enfraquecer, perdendo a sua importância e sendo substituídas pouco a pouco com teorias ligadas ao desenvolvimento das ciências naturais. Apesar de parecer que o Renascimento seja a época do florescimento da luz em relação ao obscurantismo da idade média, ele iniciou de fato a queda rápida da autêntica espiritualidade cristã. O Humanismo, de fato, acabou abrindo um abismo entre a ciência e a fé, apesar de proclamar a reconciliação entre a natureza e o espírito. Neste período aconteceu o descobrimento da América por Cristóvão Colombo e a substituição do sistema universal geocêntrico de Ptolomeu pelo sistema heliocêntrico de Copérnico (1472-1543), que revolucionou as antigas concepções geográficas e astronômicas. Portanto era de se esperar que essas grandes mudanças influenciassem também a astrologia. No entanto, ainda não havia acontecido uma verdadeira ruptura entre a astronomia e a astrologia, que eram ensinadas, juntas, em várias Universidades da Europa. Neste período, os grandes estudiosos desta época tentaram dar à astrologia uma conotação científica, por causa dos critérios racionais que agora prevaleciam. Na realidade, esta mesma conotação científica acabou favorecendo aos opositores da astrologia, já que ela não conseguia explicar nos termos da ciência positiva as visões tradicionais dos conceitos cosmológicos. As imagens simbólicas tinham valor somente se expressas por espíritos eleitos como São Tomás de Aquino ou Dante, ou mesmo pelos Mestres de Chartes e outros místicos da época, mas perdiam o sentido se comparados com a linguagem científicas e realista da época.
É neste período que surge na Itália, o gênio incomparável de Leonardo da Vinci (1452-1519). Leonardo não ignorava o conceito dos antigos filósofos de que o “Homem é um universo em miniatura”, mas, para chegar a uma visão unitária da Criação Divina que pudesse ser satisfatória seja para o estudioso que para o artista, ele precisou buscar o equilíbrio perfeito entre ciência e arte. A harmonia universal refletida num céu estrelado não havia passado despercebida ao seu olhar de pesquisador. Estudando o tratado astronômico de Ptolomeu ele conseguiu ter uma idéia precisa daquela frase hermética "o que está em cima é como o que está em baixo", ou "o microcosmo é como o macrocosmo". Na criação da "Última Ceia" (afresco que se encontra na Igreja de Santa Maria Delle Grazie em Milão, Itália), Leonardo tinha a intenção de reproduzir, segundo suas palavras, "a cosmografia do microcosmo em doze figuras", assim como Ptolomeu havia dividido o céu em doze partes, demonstrando doze variações da natureza humana que representavam cada uma as suas particulares características permitindo distinguir com precisão a sua diversidade.Conforme o conceito dos "Quatro Elementos", Terra, Fogo, Água e Ar, Leonardo dividiu os Apóstolos em quatro grupos, de três figuras cada uma, colocando-os nos dois lados da mesa, onde Jesus, no centro, reina absoluto, já que ele corresponde ao Sol de nosso sistema solar. Ao apóstolo Simão, por exemplo, é atribuído o signo de Áries, estando ele sentado na 'cabeceira' da mesa do lado direito do afresco. Tadeus representa o signo de Touro, e Mateus o signo de Gêmeos, e assim seguem todos até o final. Vemos com particularidade que o signo de Balança é atribuído a João, sentado do lado direito de Jesus (a esquerda no afresco) e a Judas (que está derramando o saleiro) é atribuído o signo de Escorpião. Por fim vemos que Bartolomeu, ao qual é atribuído o signo de Peixes, é o último e o único a ter seus pés descobertos. Desta forma Leonardo, representou a união entre o divino e o humano, que constitui a essência própria do cristianismo. Esta obra inspirada em conceitos cosmológicos não é comparável com nenhuma outra, apesar de encontrarmos em todos os lugares, palácios ou igrejas, estas analogias e representações dos signos astrológicos, das constelações, das estrelas etc., que sempre inspiraram os artistas da época. A partir deste período, a arte do século seis e sete pareceram ignorar ou quase estas representações, à medida que a humanidade era amplamente influenciada pelas ciências naturais que relegavam pouco a pouco a astrologia à simples esfera das artes divinatórias. Antes que fosse efetuada uma ruptura incisiva entre as diferentes disciplinas científicas, nos anos quinhentos e em parte dos anos seiscentos, o conceito de homem integral não era nenhuma exceção, mas era mesmo bastante freqüente. A matemática e a filosofia, a física e a medicina, a astronomia e a astrologia, eram ensinadas de forma estritamente integradas uma com a outra e muitos cientistas ostentavam conhecimentos igualmente profundos em todas estas ciências.
Um matemático, por exemplo, podia possuir profundos conhecimentos na área médicas e conhecer astronomia e astrologia, utilizando então de toda a sua potencialidade em várias áreas científicas. A astrologia precisou, mesmo neste período, levar em conta a evolução do pensamento religioso, filosófico e científico. No entanto, o sistema astronômico de Copérnico, que demonstrava a estrutura heliocêntrica do universo, não prejudicou diretamente a astrologia, como afirmavam alguns. Já na época de Pitágoras, se falava do mundo como tendo ‘um fogo central’ e mesmo nos anos trezentos, Nicolas d’Oresme havia exposto sua teoria sobre o movimento diurno da terra.Antes de mais nada, as constatações de Copérnico, e de Kepler mais tarde, provocaram dúvidas sobre aqueles que se dedicavam de forma séria aos estudos astrológicos. Porém, estas dúvidas já estavam sendo levantadas há mais de dois séculos, e nenhum astrólogo se sentiu coberto de ridículo porque precisaria modificar suas teorias, mudando o seu ponto de vista. Este era de fato uma simples mudança do ponto de observação, que não invalidava um método antes baseado nas Leis de Correspondência do que sobre a influência direta dos próprios astros. No que diz respeito às reações provocadas sobre os seus contemporâneos pelas revelações de Copérnico e Kepler, elas não ocorreram na realidade de forma imediata, pois a Igreja impediu a sua imediata difusão e aceitação por mais de três séculos. A substituição do sistema geocêntrico com aquele heliocêntrico mostraram que as novas concepções astronômicas não poderiam cancelar do espírito humano o nome da astrologia e reduzi-la a um mero exercício de logaritmos e trigonometria ou fórmulas algébricas, onde ela recairia num simples determinismo. O próprio Kepler em seu tratado "De harmonia mundi" (Da harmonia do universo) expõe idéias cosmológicas que acabaram ajudando a astrologia a conservar a sua estrutura de ciência e arte. Por isso os astrólogos sérios, usavam amplamente seus conhecimentos astronômicos, de cálculos e fórmulas matemáticas, para erguer as cartas individuais. John Muller (chamado Regiomontano – 1436-1476), Varese da Rosate (que previu a morte do Papa Inocêncio VIII - 1492), Gerólamo Cardano (1501-1571) e Tichone de Brahe (1546-1601), e o próprio Galileo Galilei estudaram com precisão os princípios astronômicos para aplicá-los à astrologia. A astrologia sempre se desenvolveu como uma ciência destinada a oferecer ao homem as premissas e os meios indispensáveis à compreensão de todos os fenômenos de sua existência. Podemos notar que, nestes séculos, nunca a astrologia foi questionada, mas era sim amplamente utilizada por papas, réis e homens de estado. As previsões astrológicas influenciavam as decisões e dominavam a imaginação das massas populares. Entre os expoentes das novas teorias, devemos lembrar o colaborador intimo de Lutéro, Felipe Schwartzhherd ‘o Melatonte’ (1487-1560). Homem de ampla cultura, eclético no melhor sentido da palavra, Melatone não somente foi o legislador da "Reforma" (já que juntamente com Jácomo Liebhard ‘o Camerarius’ havia redigido o texto da ‘Confissão de Augusta’), mas sem dúvida o maior representante das nascentes ciências naturais que influenciaram profundamente as mentes de todos aqueles que abraçaram a causa de Lutero. (Mesmo se este último, privado de sensibilidade suficiente para apreciar o valor da tradição cosmológica e incapaz de manter uma linha coerente de conduta em relação àqueles que se esforçavam de conciliá-la com o espírito de suas idéias religiosas, não tenha conseguido assimilar as idéias de Melatone e parece mesmo ter sido um verdadeiro antípodo espiritual).
Na obra ‘Initia doctrinae physicae’, que contém as lições que ele ministrava na Universidade de Wittemberg, Melatone afirma que a vontade suprema do Criador que determina todas as coisas, se expressa no ser humano de duas formas: primeiramente na forma direta e com a intervenção das forças espirituais que agem sob a vontade direta de Deus; e secundariamente através das forças da natureza. Ele coloca os astros como sendo instrumentos de espécie inferior, utilizados pelos anjos. Em resumo: a substância espiritual dos seres humanos está sujeita diretamente a Deus, e as forças da natureza, entre eles os astros, agem sobre os órgãos dos sentidos, determinando o temperamento e as inclinações e constituindo assim o complexo da própria existência humana, que Melatone chama de ‘fatum physicus’. Isto significa em outras palavras que os astros são fatores destinados a plasmar a qualidade da constituição corporal do homem composto pelos mesmos quatro elementos fundamentais que representam a parte integrante da natureza. Este conceito é muito similar àquele de Tomás de Aquino, que admite que as forças da natureza, e portanto os influxos astrais, em algumas condições, têm um equivalente sobre a alma e sobre os pensamentos do homem, no sentido que favorecem as emoções, os estados psíquicos, etc. Ao fatum physicus se sobrepõe porém a ação da Divina Providência, que reina soberana sobre a existência espiritual do homem. Desta forma o ser humano pode exercer o que nós chamamos de ‘livre arbítrio’ através de sua unificação com Deus onde a individualidade e a personalidade funcionam em relação estreita com os princípios opostos que por esta misteriosa lei da vida tendem à se equilibrar.
Sob esta ótica, Melatone pode ser considerado irmão espiritual de Leonardo da Vinci, e seus discípulos ajudaram na evolução da teologia protestante, sempre incluindo em suas obras os tratados de astrologia e as concepções cosmológicas, baseadas nas Sagradas Escrituras. Nesta época, na Itália, surge Giordano Bruno, 1548-1600, católico e na Alemanha, surge Jacom Bö hme (1575-1624), protestante. Ambos acreditam profundamente de não serem rebeldes contra a sua própria fé, mas o primeiro será acusado de heresia e perecerá na fogueira, e o outro será perseguido pelos pastores protestantes até a sua morte. Para esta afinidade de destino existe também uma afinidade de pensamento: na filosofia dos dois homens, mesmo se de forma distinta, a lei do universo e da existência humana era definida com a formula idêntica dos princípios opostos que se opõem continuamente, mas que de forma implacável se completam. Ambos eram filhos de uma época que não conseguiu compreender nem um nem o outro, por causa da íntima contradição de pensamento que era uma característica dos anos quinhentos. Lembremos que neste período surgiram várias sociedades secretas e filosóficas, ou mesmo sociedades ideais, como aquelas que expõe Campanella (1623) em sua "Cidade do Sol’, ou Giovanni Valentino Andrea em sua ‘Cristianópolis’ (1619). Isto aconteceu num século que já abria espaço ao mais completo determinismo.

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